sábado, 19 de outubro de 2013

A UM PASSARINHO

Rio de Janeiro , 1946

Para que vieste
Na minha janela
Meter o nariz?
Se foi por um verso
Não sou mais poeta
Ando tão feliz! ...
Se é para uma prosa
Não sou Anchieta
Nem venho de Assis.

Deixa-te de histórias
Some-te daqui!

-Vinícius de Moraes-

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Para Sempre

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
Carlos Drummond de Andrade
Detalhes Ocultos

Tua beleza embriaga
Bem mais que bebidas,
Teus olhos me afogaram
No mel de tuas pupilas.

Fiz um poema concreto
Aos moldes do teu corpo,
Tentei ser mais discreto...
Escondido em meu porto.

Longe dos maus olhares
Invisíveis às contradições,
Instáveis como os mares

Ondas pulsam corações,
E na frieza dos ares
Voam nossas estações.

(David Henrique)